Meus poemas

MAR

Mar
Vermelho
Pacífico
Atlântico.

Mar vermelho
de águas que me espelho.
Segredos postos em espuma.
Segredos supostos em pluma.

Mar pacífico de água calma
Que meu espírito acalma.
Que em minha mão espalma
a imensão de minh' alma.

Mar Atlântico imenso
de espírito denso.
Sobre ti ha consenso,
daquilo que de ti penso.

De vida borbulhante.
De água brilhante
Ao sol reluzente
Você produz contente.


OLHANDO PELA JANELA
Vejo sempre o mesmo
lance de subida,
nem claro, nem escuro,
sem degraus, reto.
Movimentos se entrecortam
para vários acessos.
Almejo galgar alguns lances
ao chegar ao final.
Existe um novo começo
para que a vida tenha sentido
ou para que a vida não pereça.
Ergo os olhos e vejo
a porta alta da consciência
e vislumbro alcançar as estrelas.
Estou, eu, no meio delas.
Da sala cheia, só eu vejo.
Estou à frente,
não na frente da turma,
mas, à frente no tempo.
Viajo,
criando lances largos de ascensão.



ESTRANHO ESTRANHAMENTO
O que é o estranho?
senão a percepção do outro.
O estranho é o que o eu não é.
É aquele que sabe o que o eu não é.
Que se move sorrateiramente
na fronteira da semelhança.
Que escorre inteiramente
no ser e no não ser.
É do eu a esperança
que caminha no mar
da infinita existência.
É o que o eu queria ter
mas que dele foge.
O que é o estranho
senão o estranho estranhamento
do eu que se movimenta no outro?


OLHOS
Vi uma criança parada
no chão sentada.
Me olhava calada
e seus olhos sofridos
deixavam ver
as dores sentidas,
das angústias contidas,
de poucos anos idos.
Seus olhos me olhavam,
de dores falavam,
que vozes calavam,
que o mundo sufocava.
Olhos tristes penetrantes.
Olhos agéis confiantes.
Olhos claros radiantes.
Olhos vagos brilhantes.
Olhos coesos conflitantes.
Olhos foscos palpitantes.
Olhos tortos angustiantes.
olhos vazios calmantes.

HORAS DA VIDA
As horas passam
lentamente.
cada minuto ou segundo
se seguem um ao outro
sem se preocupar com a vida.
As horam caminham
intensamente
passo a passo no mundo
arrastam um ao outro
sem denunciar a vida.
As horas passeiam
vagamente
cada ponteiro ao fundo
vão um atrás do outro
sem apressar a vida.
As horas transitam
calmamente
o som que não confundo
cada um seguindo o outro
sem atravessar a vida.


DESAFIO
O que me faz aprender?
A vontade de conhecer,
de mover-me pelas questões,
de realizá-las em sua plenitude.
O que me faz ensinar?
 A angústia de aprender,
de mover-me em suas discussões,
de realizá-las em sua inquietude.

Aprendo pela troca constante.
Aprendo pelo diálogo permanente.
Aprendo pela escuta comovente.
Aprendo ouvindo paciente.
Aprendo pelo olhar perspicaz.
Aprendo pela teoria eficaz.
Aprendo pela prática salutaz.
Aprendo pelo desafio eloquente.
Aprendo pelo desejo aparente.
Aprendo pela emoção consequente.
Aprendo pela realização pessoal.
Aprendo pela necessidade consensual.
Aprendo pela memória cultural.
Aprendo pelo convívio social.
Aprendo por amor à Educação.
Aprendo por ênfase à modificação.
Aprendo por êxtase à alfabetização.
Aprendo para ensinar.
Ensino para aprender.
Aprendo para transformar.
Ensino para resplandecer.
Aprendo para lutar.
Ensino para sobreviver.

EMOÇÃO
É difícil, até conflitante
quando me sinto inseguro.
Não sei se sou destoante,
consoante ao medo puro.
É sorrateira sua invasão.
Abala minha razão,
provoca minha evasão,
me faz plena confusão.
Meu corpo treme,
não para de se mexer.
Meu coração geme
não para de se comover.
Minha mão transpira,
meu coração se agita,
aumenta, em mim, minha ira,
que me coabita e me arrebata.
A ansia de choro vem...
tento controlar...
Impossível suportar...
A lágrima enfim vem...
Oh! Emoção bandida!
Que me faz sofrida...
Que me faz sentida...
Oh! Emoção bandida!


AFETIVIDADE
Afetividade que me impulsiona.
Sou afetada e afeto.
Afetar me emociona.
Sensação que projeto.
Me sinto incluída.
Sou pessoa completa.
Por ela possuída
Que não me faz quieta.
Sentimentos momentâneos
que me apaixona.
Sentimentos espontâneos
que me toma.
Projeto meu ser... meu ter...
Sou emoção... sou explosão...
Sentimentos não consigo conter.
Emoção pura compulsão.
É paixão que acelera
descarga no meu corpo.
Que arrebata, pura sensação
que suaviza em meu corpo.


CIDADE
Entre vastos campos edificados
abre-se clareira gigante.
Edifícios enormes enfileirados
que tornam-se galantes.
Encontro pessoas que não se olham,
não se falam e nem se tocam.
Caminham lado a lado
feito estátuas aladas.
Ouço ruídos, conversas e barulhos eternos.
Transitamos neste burburinho
sem perceber sofrimentos eternos.
Somos só na multidão, sem ninho,
sem pouso, alçamos voo infinito.
Os edifícios, as pessoas continuam.
Nosso sofrimento é infinito
enquanto pessoas caminham.
Somos sozinho na multidão.
Somos sozinho na imensidão.
Somos sozinho neste turbilhão.
Somos sozinho neste mundão.


PERDER ALGUÉM
Perder alguém
é dor profunda.
É sentir ninguém.
É sofrer que abunda.
Perder alguém
é ficar desamparada.
É ter que caminhar além
sempre abandonada.
Perder alguém
é sentir saudade.
É imagem que retém.
É sentir-se metade.
Perder alguém
é sofrer calada.
É vida que mantém.
É ficar sempre abalada.
Perder alguém
é eterna carência.
Perder alguém
é eterna ausência.


MESTRE!?
O que é um mestre?
Aquele que ensina
ou aquele que educa?
Aquele que anima
ou aquele que machuca?

Quem é mestre?
Aquele que age
ou aquele que acata?
Aquele que espera
ou aquele que participa?

Quem faz o mestre?
Aquele que acusa
ou aquele que ajuda?
Aquele que promete
ou aquele que cumpre?

Para quem é o mestre?
Daquele que espera
ou daquele que necessita?
Daquele que abriga
ou daquele que rejeita?

Para que um mestre?
Para fazer futuro
ou para omitir?
Para cumprir tempo
ou para fazer o tempo?

Porque ser um mestre?
Para ser educador
ou apenas consolador?
Para ser participante
ou para ser atuante?

Para onde vai o mestre?
Para escolas enfadonhas
ou para escolas ilusórias?
Para escolas atuantes
ou para escolas omissas?

Mestre, educador.
Mestre, professor.
Mestre, doutor.
Mestre? Mestre!

Eu quero uma janela para o céu


Eu quero uma janela para o céu.....
Onde não tenha políticos corruptos....
Onde não tenha pessoas morrendo de fome,
sem água, sem casa, sem saúde...
Eu quero uma janela para o céu....
Onde o sol brilhe, mas não haja calor infernal....
Onde as pessoas apaixonem-se por pessoas,
que saibam ser pai, mãe, filhos com responsabilidade....
Eu quero uma janela para o céu....
Onde pessoas falam sobre o amor, a paz, a preservação...
Onde pessoas vivam a vida com paixão,
praticando o bem sem ver a quem....
Eu quero uma janela para o céu.... 
onde a maldade é ficção,
Onde a caridade é realidade...
Eu quero apenas...
uma janela....


Riqueza das migalhas

Eu meio às migalhas que me lançam
tenho força, resurjo das cinzas.
Cato as migalhas, farelos de minha vida
e tento digeri-los inutilmente.
Minhas mãos, as alcançam.
Meios olhos, as vê como cinzas.
São apenas a passagem sofrida,
cacos, estilhaçados sutilmente.
Eu, mendiga de minha vida
Sofro, renasço, resurjo a catar.
A riqueza minha contida
desabrocha, deságua no mar.
Se falo, afirmo, consinto.
Se vejo, observo, percebo.
Se ouço, escuto, sinto.
Se degusto, concebo
a vida que desejo.
A vida que almejo.